Grupo pede afastamento de
delegado que atuou na ditadura
Em
Itatiba, interior de São Paulo, Carlos Alberto Augusto foi denunciado em
outubro de 2012, mas nomeado delegado em fevereiro passado
São Paulo
-- A Frente de Escracho Popular (FEP) realizou hoje (4) um ato na Praça da
Bandeira, no centro de Itatiba, cidade a cerca de 80 quilômetros da capital
paulista. O objetivo da manifestação, conhecida como "esculacho" foi
denunciar publicamente e exigir a exoneração do delegado Carlos Alberto
Augusto, conhecido como Carlinhos Metralha ou Carteira Preta, acusado em um
processo judicial e apontado por entidades de direitos humanos de ser executor
de torturas entre os anos de 1970 e 1977, como agente da ditadura militar.
Metralha
fazia parte da equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, apontado como um dos
mais ativos torturadores do período. Ele também é acusado de participar do
Massacre da Chácara São Bento, em Pernambuco, em 73. Na ocasião, seis
militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram assasinadas. Entre
elas, Soledad Barret Viedma, que estava grávida do agente infiltrado Cabo Anselmo.
Em outubro de 2012, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por
participação no sequestro do militante de esquerda Edgar de Aquino Duarte, em
1971. Em fevereiro desse ano, foi nomeado pelo governo do estado delegado.
“Estamos
aqui para denunciar esse torturador, esse carniceiro”, foram algumas das
acusações feitas por Nico de Almeida, membro da FEP. O grupo – representado por
cerca de 30 pessoas que foram à cidade em ônibus alugado – já realizou outros
escrachos, mas esse é o primeiro em que o agente alvo das denúncias ainda está
na ativa.
O MPF e a
Comissão Estadual da Verdade já ingressaram com ações pedindo a exoneração do
delegado de suas funções, baseado no regimento interno da policia civil, que
prevê o afastamento de delegados suspeitos de quebras disciplinares graves. A
justiça pediu detalhes sobre o histórico de Alberto Augusto para tomar a
decisão.
Para os
membros do FEP, a presença do suspeito de torturas aos direitos humanos deixa a
população vulnerável a outros desrespeitos. “O ato serve inclusive para a
comunidade se preparar para denunciar possíveis violências que podem acontecer.
A gente está aqui para alarmar, para que eles saibam que o governo estadual, a
secretaria de segurança pública colocou para eles. Estão todos vulneráveis de
ser vítimas de violências como essas”, afirmou Almeida.
Para
Fabiana do Carmo, de 21 anos, a relação de parte da população de Itatiba com a
policia na cidade já é ruim, principalmente em relação “os meninos dos morros”.
“Eles não podem ver ninguém que parece 'do morro' que já chegam 'chegando'”,
ilustrou. Ela conta que mora em um conjunto habitacional e que é comum que a
polícia “entre com tudo” para perseguir pessoas. “Muita gente diz que é mais
fácil ser protegido por bandidos do que pela polícia. E eu concordo, porque tem
certos valores que os bandidos têm que a polícia não tem”, acredita.
Os
manifestantes fizeram questão de lembrar que o ato também é contra a violência
policial. E lembraram que no próximo dia 12 se completam sete anos dos Crimes
de Maio, quando 493 pessoas foram assassinadas em um período de dez dias, na
maioria dos casos, com sinais de participação de policiais.
“Não há
reconciliação. Não há perdão. Os torturadores têm de ser processados, julgados
e punidos. Como aconteceu na maior parte das democracias da América Latina, em
países que sofreram também com ditaduras”, encerrou Almeida.
por
Gisele Brito publicado 04/05/2013 17:24
Data de acesso:05/05/2013
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