Segunda Guerra Mundial (Resistência
Francesa)
Este blog
foi produzido com as constribuições dos alunos das turmas de 3ª serie do prof
Aurelio Fernandes.
Maquis e Partisans – Contribuição
à memória da Resistência polonesa e francesa ao Nazismo
Aqui estão alguns
relatos da resistência armada polonesa e francesa contra o Nazismo na Segunda
Guerra Mundial. Espero que vocês gostem!!
New York Times do dia 1º de setembro de 1939
A Invasão da Polônia
O texto abaixo citado foi distribuído à imprensa mundial apenas quatro dias
depois de começada a Segunda Guerra Mundial. E demonstra que, quase
simultaneamente com a chegada das tropas alemães, começou a Resistência nos
setores ocupados. Mais até, a Resistência se iniciou no mesmo dia em que a
guerra começou.
Berlim, 5 de setembro de 1939. Convidado pelo governo alemão, um representante
da imprensa estrangeira, escolhido pelos correspondentes, foi levado num avião
oficial para Czestochowa. Na volta, esse jornalista declarou: “Nas imediações
ouvimos disparos intermitentes e o fogo da artilharia antiaérea alemã que
entrara em funcionamento. Numa esquina havia dois cavalos mortos que ninguém se
preocupava em retirar. Diante dos edifícios crivados de balas e com os vidros
arrebentados, vimos passar uns trinta civis poloneses, que marchavam com as
mãos erguidas, custodiados por soldados alemães com baioneta calada. Um oficial
alemão nos explicou que se tratava de franco-atiradores e constituíam um dos maiores
problemas com que tropeçavam agora nas cidades os soldados alemães. Por essa
razão, fôra resolvido capturar todos os civis em idade de portar armas e
levá-los para a Prefeitura. O avião chegou ao aeródromo improvisado de
Stubendorf, perto de Oppeln. Ao aterrissar, um tenente-coronel nos esperava e
nos avisou que não poderíamos ir a Czestochowa, porque tinham notícias de que
os franco-atiradores haviam entrado em ação. Chegou então um suboficial que nos
assegurou: ‘Temos tentado ir a Czestochowa, porém tivemos que voltar porque no
caminho os camponeses fizeram fogo pelos dois lados’. Pouco antes de chegar à
fronteira polonesa, em Gutentag, deparamos com uma barricada, rodeada de arames
farpados, e com uma espécie de galpão numa das suas extremidades. Soube que ali
haviam reunido, durante a noite, uns 1.100 poloneses, para mais tarde serem
transportados aos campos de concentração próximos. Todos eram acusados de
disparar contra as tropas alemãs. Um oficial comentou: ‘As mulheres da Polônia
lutam como tigres’. A pequena localidade de Graszyn, vizinha de Czestochowa,
que se dedica à fabricação de ladrilhos, foi reduzida a cinzas. Segundo outro
oficial, a população se rebelou depois da entrada das unidades alemãs”.
A Resistência na Polônia
Tadeusz "Bor" Komorowski, comandante do Exercíto de
resistência polonês entre os anos de 1943–1944.
O General Bor Komorowski, figura chave na organização da Resistência polaca,
assim descreve o início do movimento: “Quando soube que devia ficar e elaborar
um plano para a organização do exército secreto da Resistência, tive que
formular métodos práticos para a execução desse plano. Nenhum de nós tinha a
menor experiência nesses assuntos… As primeiras medidas consistiram em formar
pequenos grupos de civis e militares desmobilizados, unindo-os em células de
cinco homens. Cada um dos membros de uma célula podia conhecer somente seus
quatro companheiros. Por sua vez, cada um devia organizar um novo grupo de
cinco combatentes clandestinos”.
Dessa forma, a organização começou a crescer, sempre sob a direção suprema de
Bor Komorowski. Era proibido o uso dos verdadeiros nomes e foram escolhidos
diversos pseudônimos. As áreas de operações foram em seguida divididas em
setores, que ficaram cobertos por um, dois ou mais grupos. Também foram
nomeados comandantes de setor, que tinham sob suas ordens os diferentes grupos.
O passo seguinte consistiu em adestrar os homens no uso das armas. Estas,
polonesas e alemãs, eram desconhecidas para muitos dos combatentes
clandestinos, muitos deles adolescentes. Foram então organizadas verdadeiras
escolas militares, onde os homens se familiarizavam com o emprego da arma
curta, o fuzil e a metralhadora. Também os explosivos mereceram uma especial
atenção, visto que, indiscutivelmente, seriam intensamente utilizados nas
operações previstas.
Bor Komorowski, na Cracóvia, organizou um estado-maior e determinou os locais
que serviriam de refúgios e centros de reuniões. Estes últimos foram
denominados com palavras em código, para evitar o risco representado pelo envio
de ordens escritas. Simultaneamente, as pessoas em cujas casas se efetuavam as
reuniões, desconheciam os homens que se reuniam, não sabendo senão o dia e a
senha convencionada.
Além dos grupos de comando e os setores combatentes, precisaram criar também
serviços de inteligência, com o fim de antecipar-se às atividades dos alemães e
também informar-se acerca dos objetivos a serem atacados.
As comunicações à longa distância, impossíveis de efetuar com agentes, tornaram
necessária a criação de uma rede de estações de telégrafo sem fio, que
permitiram o intercâmbio de informações e ordens em poucos minutos.
A imprensa polaca, por seu turno, suprimida radicalmente pelos nazistas, foi
substituída por boletins que, gradualmente, aumentaram o número de suas
páginas, até se converterem em verdadeiros jornais. Deve-se salientar que os
elementos necessários para a impressão foram levados, peça por peça, a
subterrâneos cavados especialmente e ali montados novamente. Os subterrâneos,
construídos geralmente no subsolo de casas vizinhas de fábricas, exigiram aos
homens da resistência esforços indescritíveis. A proximidade das fábricas, logicamente,
era necessária para atenuar o ruído produzido pelas máquinas impressoras.
A imprensa clandestina polonesa, além de imprimir boletins e periódicos,
contribuiu eficazmente para o treinamento dos combatentes da resistência,
imprimindo folhetos técnicos, a serem distribuídos entre os homens,
ensinando-os a manejar armas, fabricar granadas e a conhecer rudimentos sobre
estratégia.
Fuzilamento de 300 prisioneiros poloneses pelos nazistas em 9 de
setembro de 1939.
Os métodos e as técnicas de sabotagem
As palavras de Bor Komorowski ilustram, fartamente, os métodos empregados pelos
combatentes clandestinos na sua luta contra os efetivos nazistas: “Um exemplo
do que era a organização durante o primeiro período de ocupação, é a sabotagem
com que atacamos os vias férreas. O número de trens a serem sabotados em cada
mês era determinado no QG de Varsóvia, num programa mensal. Foi necessário
organizar unidades especiais com esse fim. Estudaram-se e imprimiram-se
instruções com a colaboração dos maquinistas e engenheiros das empresas
ferroviárias. Somente os métodos que não delatavam ser obra de sabotagem eram
adotados, e gradualmente foram-se aprimorando com a experiência. Em 1940, o
período normal de incapacidade a que ficava sujeita cada locomotiva danificada
era de 14 horas; em 1942, esse período se alongara a cinco dias; em 1943, a 14
dias.
“Um produto químico especialmente preparado era adicionado à graxa das
máquinas. Em apenas 10 dias, nossos observadores em todas as oficinas de
manutenção do país relataram que aproximadamente 200 locomotivas tiveram que
ser retiradas do serviço, algumas por três dias, outras por três meses, de
acordo com a rapidez com que o maquinista ‘percebia’ que alguma coisa não ia
bem. Os alemães não tinham possibilidade de descobrir a causa dessas imperfeições.
Por quase três semanas, o tráfego ferroviário do país esteve completamente
desorganizado; numa dessas ocasiões, um grande número de trens teve que ser
recolhido às oficinas, e os atrasos, freqüentemente, ultrapassavam 24 horas…
Vários trens carregados com gasolina seguiam essa rota diariamente. Para sua
destruição usávamos bombas incendiárias que nós mesmos fabricávamos. Um
depósito com uma carga explosiva era colocado sobre uma alavanca pneumática; um
simples impulso da mão sobre a alavanca era suficiente para firmar a bomba
embaixo do carro-tanque. Um dispositivo muito primitivo servia para regular o
tempo da explosão; esse dispositivo funcionava impulsionado pelo movimento do
trem ao deslizar sobre os trilhos. Assim, podíamos regular a distância e o
lugar da explosão. No caso de transportes de minerais, o trabalho era ainda
mais simplificado. A tarefa de colocar um pequeno depósito com carga explosiva
entre os pedaços de mineral levados em caminhões abertos, era bem fácil. A
explosão geralmente ocorria quando o mineral descia pelos condutos que o
levavam aos fornos, danificando assim as instalações das usinas de fundição.
“Em todos os ramos de sabotagem e atividades subversivas, o método definitivo e
a iniciativa da execução ficavam normalmente a critério daqueles que se
encarregavam de levar a cabo o trabalho. O procedimento correto somente podia
ser decidido e adotado no lugar escolhido para a operação, e com conhecimento
exato das condições que prevaleceriam nela, porém os homens que executavam a
façanha nem sempre contavam com os meios necessários para desempenhá-la. Por
exemplo: no caso da sabotagem da reserva de óleo lubrificante, nos informaram
que o dano podia ser causado pelos homens que trabalhavam no local em que eram
despachados os abastecimentos. Porém esses homens não possuíam as substâncias
químicas requeridas para a tarefa. Cabia, portanto, a nós, recorrer aos
químicos da organização. Depois de um mês de trabalho meticuloso, foram obtidos
100 quilos do produto necessário, que foram escondidos num acondicionamento
colocado embaixo de um montão de carvão, junto com o qual chegou ao seu
destino, onde foi descarregado por homens inteirados do assunto”.
Insurgência do Gueto de Varsóvia, onde Judeus insubmissos lançaram
ataques às tropas alemãs. Começada em 18 de janeiro de 1943 durou até abril de
1943, quando foi massacrada pelos nazistas por falta de suprimentos e
armamentos.
A respeito da produção de materiais de guerra, Komorowski diz o seguinte: “…
fôra mantido até então por vários centros que trabalhavam separadamente. Agora
resolvemos centralizá-los sob a supervisão de especialistas. Essa supervisão
foi confiada pelo QG a um engenheiro que ficou diretamente sob minhas ordens. A
operação completa se dividiu em duas partes principais: produção de armamentos
para o futuro, quando seriam empregados no levante geral, e produção necessária
para as necessidades do dia, consistentes em operações de destruição e
sabotagem. Ambos os centros se mantinham em estreita cooperação e, por seus
esforços conjuntos, muitos bons resultados foram conseguidos. (Por exemplo,
depois de um longo período de estudos e experiências, conseguimos produzir
pistolas automáticas e lança-chamas). Enquanto os técnicos preparavam planos e
métodos de produção, eu ordenava a formulação de uma lista de matérias-primas
requeridas, tomando especialmente em consideração a demanda relacionada com as
operações que se efetuavam para minar o inimigo. Um grupo de cientistas
trabalhava exclusivamente na pesquisa de materiais que poderiam ser empregados
em toda classe de atividades de destruição e que melhores resultados
produzissem em cada caso”.
Os esforços dos técnicos e cientistas da resistência eram freqüentemente
neutralizados pelos alemães, que descobriam a forma de superar a ameaça de um
certo explosivo ou de um determinado artefato. Assim, perdiam-se horas, dias e
até meses de esforço. Foi o que aconteceu precisamente com a chamada “bomba altimétrica”.
Após um longo processo de investigação e ensaios, os homens da Resistência
conseguiram criar um engenhoso dispositivo. Era uma bomba, em forma de cilindro
alongado, que não permitia supor, pelo seu aspeto, o verdadeiro fim ao qual se
destinava. A bomba era colocada na cauda dos aviões e, durante um tempo
funcionou eficazmente, explodindo com a variação da altura, isto é, com a
pressão barométrica. Dessa forma foram destruídos dezoito aviões alemães. Logo,
no entanto, os nazistas adotaram rigorosas medidas de vigilância em terra e a
colocação de tais artefatos tornou-se impossível.
Áreas
circuladas em vermelho são os pontos de resistência polonesa no levante de
Varsóvia no dia 4 de agosto de 1944. O Levante de Varsóvia foi a tentativa do
Exército de Resistência Polonês, fiel ao Governo Polonês no Exílio (em
Londres), de tomar controle da capital do país. O levante, parte de uma grande
operação de resistência conhecida como Operação Tempestade, durou 63 dias, até
a rendição polonesa em 2 de outubro de 1944. A operação Tempestade propunha
cumprir um duplo objetivo: 1. rechaçar de maneira violenta e vigorosa as forças
nazistas e 2. impedir que a Polônia se tornasse esfera de influência soviética.
A situação se torna crítica no dia 13 de Julho de 1944, quando a ofensiva
soviética cruza as fronteiras polonesas. Neste momento, os poloneses deveriam
enfrentar uma difícil decisão: ou iniciavam o levante na difícil situação
política do momento e arriscavam problemas com os soviéticos ou falhariam na
rebelião e teriam que enfrentar os detratores soviétivos que os descreveríam
como impotentes ou, ainda pior, como colaboracionistas nazistas. O Exército de
Resistência Polonês tinha medo de que caso a Polônia fosse
"libertada" pelo Exército Vermelho, as potências Aliadas talvez
ignorassem a legitimidade do Governo Polonês exilado em Londres ao final da
guerra. Por mais que tivessem um inimigo comum, os nazistas, Poloneses e
Soviéticos tinham discordâncias em seus objetivos finais, pois o Governo
Polonês tinha a intenção de constituir um governo democrático pró-ocidente na
Polônia, já Stalin queria implementar um governo socialista sobre o território
polonês, tornando-o área de influência soviética. Além disso, não podemos
esquecer do tratado Molotov-Ribbentrop, o tratado de não-agressão fixado entre
Alemanha nazista e URSS antes da invasão da Polônia, onde ficava acordado que a
Russia ganharia espólios de guerra pela sua neutralidade em relação à invasão
da Polônia pela Alemanha, aumentando a sua área de influencia com parte do
território polonês. Em 17 de setembro de 1939, quando a Polônia já sofria duras
e sucessivas derrotas frente à Alemanha Nazista pelo Oeste, a União Soviética
quebra o pacto de não-agressão com a Polônia e começa seu processo de
reconquista territorial, territórios estes que faziam parte da Rússia e que
foram perdidos com o triunfo da revolução bolchevique em 1917 e com a saída da
Rússia da Primeira Guerra Mundial no mesmo ano. No ano de 1940, o exército
vermelho perpetra nas densas florestas de Katyn o massacre de 22 mil poloneses,
entre autoridades de estado, militares, policiais e intelectuais.
A interrupção do tráfego ferroviário foi objeto de estudos especiais. De fato,
uma mina colocada numa determinada via, ocasionava a paralisação do tráfego
durante quatro ou cinco horas. Porém, freqüentemente, era necessário que tal
paralisação se prolongasse por dez ou doze dias. Conseqüentemente, tiveram que
ser idealizados novos métodos e técnicas. Foi então decidido fazer o seguinte:
na via principal, pela qual circularia o trem a ser destruído em primeiro
lugar, era colocada a carga explosiva. Simultaneamente, nas vias vizinhas, por
onde chegaria o trem de auxílio, se colocavam outras cargas. Após o primeiro
objetivo voar pelos ares, eram dinamitados também os dois ou três trens de
socorro que chegassem ao local. No caso de uma única via, os explosivos eram
disseminados ao longo de vários quilômetros; ocasionando sucessivas explosões.
Em qualquer dos casos, a interrupção se prolongava além das poucas horas
iniciais e se convertia em uma verdadeira catástrofe.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos homens da Resistência era
conseguir os elementos necessários para a fabricação de explosivos, como o
salitre, por exemplo. Por fim, a situação foi contornada, comprando diretamente
o vital elemento… dos alemães. De fato, as duas grandes fábricas de
fertilizantes de Chorzow e Moscice, que operavam sob controle nazista,
forneciam seu produto às grandes cooperativas agrárias e aos agricultores.
Bastou que cada um deles aumentasse ligeiramente as quantidades adquiridas para
que os homens da Resistência chegassem a dispor, rapidamente, de grandes
quantidades do elemento essencial.
Passemos a palavra aos protagonistas dos episódios citados, detalhando os duros
trabalhos realizados para obter os tão necessários explosivos:
“O melhor produto explosivo com que poderíamos levar a cabo nossas operações
era o Cheddite. Para isso necessitávamos uma provisão de cloreto de potássio
muito difícil de obter. Havia apenas uma fábrica alemã produtora dessa
substância na Polônia, em Rodocha. Porém, os alemães sabiam muito bem quão útil
esse produto nos podia ser e tanto sua produção como a venda eram regulados
pelo mais estrito controle. Os intentos para apoderar-nos de algumas
quantidades desse produto em Radocha fracassaram redondamente. Felizmente, a
carga de dois vagões foi desfalcada pelos nossos, enquanto viajava. Também um
assalto a mão armada que efetuamos nos armazéns mais importantes de Varsóvia
nos deu oportunidade de conseguir um pouco mais dessa substância. Os alemães
trataram de pôr um fim a isso, ordenando às suas firmas que reduzissem a
armazenagem do cloreto ao mínimo. Apesar disso, os trabalhadores poloneses da
grande fábrica de fósforos de Blonie deram um jeito para ir enchendo os
depósitos da fábrica com quantidades extras de cloreto de potássio. Em outro
caso, o pessoal polaco de uma fábrica alemã pediu uma grande quantidade da
substância química, que teve de ser importada do Reich; essa remessa também
desapareceu. “Para a produção de outro explosivo, nos apoderamos de 5.000
quilos de urotropina com a ajuda dos fabricantes de produtos farmacêuticos de
Varsóvia, Ludwig Spiess & Son, e Drozdowicz & Cia., que eram nossos
melhores fornecedores.”
“Na produção de granadas de mão, minas, bombas e outros artefatos era
necessário utilizar diferentes substitutos. Por exemplo, 10.000 copos de
baquelite foram comprados a fim de serem convertidos em granadas do tipo
“Filipinka”. Para outro trabalho, tivemos que empregar os depósitos de água das
lâmpadas de acetileno, que, nessa época, eram de uso generalizado na Polônia.
Uma boa partida de chaveiros foi muito útil, empregados como anéis de detonador
nas granadas de mão e nas bombas”.
“Às vezes obtínhamos nossas matérias-primas e produtos semi-elaborados, das
fábricas controlados pelos alemães, porém a maior parte de nossos produtos
acabados vinha de oficinas que funcionavam sob licenças legais, mas que faziam
trabalhos ilegais… Assim, a fabricação de submetralhadoras se escondia, em
grande parte, na confecção de cadeados e fechaduras comuns. As granadas de mão,
popularmente conhecidas como Sidolowki, porque tinham uma grande semelhança com
as latas de graxa Sidol, eram fabricadas no mesmo lugar onde se faziam as latas
para a graxa. Os lança-chamas eram confeccionados numa fábrica de extintores de
incêndios. Muitos testes deviam ser feitos e isso era também motivo de risco,
especialmente se o teste era acompanhado de explosões e incêndios…”
Destacamento de guerrilheiros do Exército Nacional Polonês (Armia
Krajowa). Preparativos para o ataque.
“Vejamos o caso do lança-chamas que se testou no próprio centro de Varsóvia, em
um dos lados da Praça do Teatro. Estava decidido que o teste devia ser feito
nas ruínas de umas casas, atrás da igreja de Santo Antônio, cuja cripta e
cúpulas eram um dos nossos depósitos de armas e materiais de guerra. Antes que
a prova se efetuasse, o encarregado da fabricação desse tipo de lança-chamas
que dirigiria a experiência avisou a estação de bombeiros do edifício “Tom
Hall” e visitou as autoridades policiais. Explicou que era representante da
“Motor Stock”, fábrica de extintores controlada pelos alemães, e os preveniu
para que não se alarmassem caso vissem chamas e fumaça, pois ele e seus
empregados iam testar um novo tipo de extintor perto da Praça do Teatro.”
“O lança-chamas funcionou com toda eficiência. As chamas alcançaram uma altura
de seis metros, e nem a polícia, nem os bombeiros, se mexeram para investigar”.
A guerra psicológica
Paralelamente com a ação bélica ativa, os homens da Resistência levaram a cabo
uma intensa ação psicológica. Foi denominada pelo comando “Ação Especial IV” e
consistiu em ataques ao moral do inimigo.
Uma dessas ações foi realizada no dia 1o de maio. Nesse dia, as fábricas e
oficinas receberam comunicações especiais do comando alemão, determinando que
as atividades deviam ser paralisadas por 24 horas.
As ordens foram emitidas em papel que ostentava o emblema do Departamento de
Trabalho alemão e estavam redigidas em impecável estilo alemão. Os comunicados
foram enviados à última hora, um dia antes, impossibilitando o comando alemão
de descobrir a tempo o truque. Conseqüentemente, apesar da intensa campanha que
os alemães fizeram na noite anterior, utilizando alto-falantes e outros meios
de difusão, no dia 1o de maio, as oficinas e as fábricas, em sua maioria,
permaneceram praticamente desertas. Um dia fôra perdida para a produção.
Milhares de horas de trabalho, irrecuperáveis, haviam sido ganhas pelos homens
da Resistência, sem disparar nem um só tiro, nem perder um só homem.
Em outra ocasião, todos os residentes alemães de Varsóvia receberam uma
comunicação em papel oficial do Partido Nazista. Na nota, eram informados que
deviam estar, em determinada hora, na sede do Partido, levando consigo certos
alimentos que seriam meticulosamente consignados.
A conseqüência imediata da ordem foi uma reunião maciça de residentes alemães
na sede do Partido. Paralelamente, centenas de alemães tiveram que abandonar
suas ocupações habituais para obedecer à convocação. Por outro lado, as
autoridades alemãs, prevendo a possibilidade de infiltração de elementos
guerrilheiros entre os alemães, ordenaram que todos os presentes, em número de
vários milhares, fossem minuciosamente registrados. Em resumo, tempo perdido,
trabalho não realizado e mobilização totalmente inútil de efetivos alemães.
“Foi para os maquis”
- O que aconteceu com fulano?
- Foi para os maquis…
Após a ocupação do território da França pelos alemães, essa troca de palavras
era freqüente nos povoados e cidades. Homens, jovens geralmente, dialogavam em
segredo rapidamente. O tema, quase sempre, era o antigo amigo que… “foi para os
maquis”…
Isso significava abandonar o lar e a família, desaparecer legalmente da vida,
aceitar as mil penúrias da vida errante, bastar-se a si mesmo, lutar até a
última gota de sangue e talvez morrer nas mãos das tropas de ocupação ou frente
a um pelotão de fuzilamento.
Na França, os maquis se ocultavam, preferencialmente, nas zonas montanhosas ou
em bosques. Os grupos eram integrados por um número de homens que oscilava
entre dez e duzentos. Raramente mais. Estreitamente unidos entre si, pelo
sentido da sua luta e, também, por uma disciplina severíssima, esses homens
afrontavam todos os perigos da guerra, sem contar, paralelamente, com as
roupas, as armas e os víveres que normalmente abastecem o exército regular;
além disso, os homens sabiam que deveriam lutar sem a proteção das leis
internacionais e convênios que dão aos soldados regulares a possibilidade de
salvar a vida, após a captura.
Ser maqui era, segundo as palavras de jornal clandestino que circulava na
França em meados de 1943: “… incorporar-se solenemente ao exército da
Resistência, decidir-se a arriscar a vida pela salvação do país, sofrer na
espera da luta pela libertação.”
“Ser maqui é dormir no chão duro, não comer todos os dias, aceitar uma
disciplina de ferro. Ser maqui é não sair mais. Relutante, reflita bem antes de
partir, pesa tuas responsabilidades, nós conhecemos as nossas. Se vieres
conosco, serás acolhido como um irmão, encontrarás entre nós um ideal
maravilhoso, digno dos verdadeiros combatentes: o de morrer na defesa da
pátria”.
Maquis preparando plano de ação para sabotagem.
Um correspondente britânico, lançado de pára-quedas num setor dominado pelos
maquis, relata assim suas experiências:
“Chegar aos maquis não é coisa fácil. Longe dos povoados, longe das estradas, é
necessário escalar durante horas vertentes abruptas, cruzar matas espessas,
seguir atalhos imperceptíveis, sempre precedidos por um guia. Entre outros
refúgios, existia um, cavado na terra, guarnecido por uns trinta homens. Todos
muito jovens, refratários à desmobilização e ao S.T.O. (Serviço de Trabalho
Obrigatório). Encontram-se ali, mescladas, todas as classes sociais e todas as
regiões da França. Três estudantes de Lilly, operários das construções de
Bordeaux, jovens camponeses do Languedoc, marselheses, lorenenses, um oficial
com culotes de montaria, jovens e atléticos esportistas. Conjunto heterogêneo,
imagem da França. Ao entrar, tive minha atenção atraída por um imponente número
de armas, todas dispostas em ordem; os fuzis, obturados com pequenos tarugos de
madeira; os cartuchos nos carregadores; tudo preparado para ser utilizado em
poucos instantes. Os rapazes nos crivaram de perguntas: ‘Quais as notícias do
rádio?’ ‘Tem fumo?’ ‘Que nos traz de bom?’ Perto do refúgio, uma enorme marmita
colocada sobre uma fogueira de lenha. As rações, segundo me explicaram, são de
um quarto de legumes secos por refeição e de um quilo de batatas, com pão e
carne… quando há. Quanto aos alimentos, ‘vamos indo’ me disse o cozinheiro, um
rapaz jovial e obeso, ‘porque estamos em excelentes relações com os
camponeses’. Freqüentemente, foram eles acusados de avidez, de estarem para
sempre contaminadas pelo mercado negro. Nada é mais falso e injusto. Nos vendem
de tudo aos preços normais e de costume entre os camponeses. Às vezes, até nos
fazem presentes estranhos: toucinho, ovos, banha. E em todas as visitas que
lhes fazemos nos oferecem sempre uma merenda. Os caçadores nos fazem
participantes da sua caça, nos dão pescado e até nos confiam seus segredos. É
preciso também dizer: os camponeses nos ajudam e nós pagamos sempre pelo que recebemos.
Todos sabem que o roubo não é absolutamente proibido, mas que respeitamos
rigorosamente essa confiança. Procuraram fazer com que apareçamos como
bandidos, porém nossa presença, longe de atemorizá-los, os anima para a
resistência. Por nossa causa, reservam uma parte da colheita e retardam as
entregas… Evidentemente, existem alguns que têm medo. A segurança não é nunca
absoluta. Aqui não há lugar para os covardes. Para os demais há armas e se
tomamos a decisão de nos servir delas (e acredite que a tomamos) nossa
segurança está garantida. Além disso, sabe, temos cúmplices em todos os lados.
Depois, quem poderia atuar contra nós? Os gendarmes? A maioria é composta de
excelentes franceses e antes de nos entregar aos ‘boches’, numerosos seriam os
que viriam ser maquis, ao nosso lado, trazendo armas e equipamentos. Quanto aos
outros, se obedecem aos ‘boches’ e vêm-nos ‘aborrecer’, saberemos sempre onde
encontrá-los, e não estamos dispostos a deixar nenhum prisioneiro impune. A
respeito dos safados ‘dedos duros’ da milícia e a alguns assalariados pelos
‘boches’, à primeira atitude da parte deles, terríveis represálias hão de lhes
tirar qualquer vontade de voltar a se manifestar. Porque nós os conhecemos a
todos, e sabemos onde dar o golpe.”
Os golpes de audácia
Enumerar os golpes de audácia realizados pelos maquis seria uma tarefa
interminável. Impossível, também, por se carecer de um registro orgânico das
centenas de ataques e emboscadas protagonizados pelos elementos da Resistência.
Além disso, a estreita união que se estabeleceu entre os revoltosos e os
trabalhadores que desempenhavam suas tarefas nas fábricas tornava impossível
delimitar as atividades de uns e de outros, sendo muito difícil saber a quem
atribuir muitos dos episódios da Resistência, principalmente com referência às
atividades de sabotagem em fábricas e indústrias.
Para descrever os aspectos característicos da incessante luta travada pelos
maquis, reproduziremos textualmente alguns informes tirados de relatórios
oficiais de Vichy:
“Uma agressão à mão armada foi cometida durante a noite de… em um depósito de
armas situado na cidade de…”
“Entre três e três e meia da madrugada, três homens mascarados irromperam no
local e, revólver em punho, ordenaram ao guarda que não desse o alarme, enquanto
outros homens, igualmente mascarados, ficavam no corredor, e mais outros,
colocados nas imediações, vigiavam o Corpo de Guarda. ”
“G… foi levado para perto de um caminhão estacionado na estrada e teve que
assistir ao carregamento dos objetos e armas tirados do negócio; um jovem, o
único que não usava máscara, se apoderou também da pistola, do guarda G…
Encarregado de assegurar a vigilância na porta da entrada sul do campo,
enquanto que um último grupo de agressores se encaminhou para o compartimento
onde estavam depositadas as munições. Depois de haver lançado mão de todas as
reservas, e tê-las carregado num caminhão, os assaltantes se dispersaram na
noite.”
“Em número de trinta, os autores desse assalto eram todos jovens de 20 a 25
anos, que falavam francês, dos quais, dois pelo menos, utilizavam o dialeto da
região. Durante o curso dessa operação foram roubados: 225 fuzis curtos; 271
baionetas; 568 pistolas automáticas; 2 fuzis-metralhadoras; 17.000 cartuchos
para fuzis; 2.000 cartuchos de FM; 1 forquilha de FM; 2 ganchos executores de
FM; 8.180 cartuchos para pistola; 230 porta-fuzis; 70 cinturões; 4 culotes; 1
capote; 12 mantas.”
Produção de Granadas Sidolowki
“O armazém principal de abastecimento da cidade de G… foi assaltado nas
seguintes circunstâncias: ‘Vários indivíduos mascarados, em número de seis a
oito, penetraram nos armazéns, revólver em punho; obrigaram o pessoal
encarregado do fichário dos bônus de racionamento, e ao diretor do serviço, a
reunir-se no recinto do público, enquanto outros indivíduos se apoderavam dos
fichários e despejavam o conteúdo dentro de umas sacolas.”
“A operação durou cerca de dez minutos e, tendo-se produzido nesse lapso uma
interrupção na corrente elétrica, ninguém pôde reconhecer os autores da
agressão. Por outro lado, estes haviam cortado os fios telefônicos à sua
chegada, e avisaram o pessoal que seria inútil tentar sair antes que passassem
cinco minutos, estando todas as entradas dos armazéns vigiadas até que eles
fugissem. O pessoal obedeceu a essa ordem.”
“Na noite de… um grupo de revoltosos, naturais da região, fez descarrilar um
trem de munições perto de C… Dezessete vagões explodiram, seiscentos metros de
ferrovia foram danificados e o tráfego na linha Paris-Lyon foi interrompido por
um tempo bastante prolongado. ”
“É de notar que para evitar que um trem de passageiros se chocasse contra o
trem acidentado, os autores do descarrilamento tiveram o cuidado de fechar a
via férrea.”
“Entre S… e T… acabava de ser desparafusado um trilho pelos guerrilheiros,
quando estes se inteiraram que, contrariamente ao que esperavam, o primeiro
trem que passaria seria um de passageiros; imediatamente, os guerrilheiros
tornaram a repor o trilho em condições e fugiram.”
“No dia… guerrilheiros condenados a trabalhos forçados foram libertados,
durante sua transferência de R… para a casa central de B…, nas seguintes
circunstâncias: um de seus cúmplices se apresentou no estação de T… fazendo-se
passar pelo comissário D… Deu ordem aos gendarmes que acompanhavam os presos,
de interromper a viagem, pois seria perpetrado um suposto atentado contra o
trem que os transportava; depois, apontando uma caminhonete e dois ônibus de
turismo, estacionados na praça da estação, o suposto comissário D… ordenou aos
gendarmes que tomassem lugar com os prisioneiros. Os guardas, nada
desconfiando, pois um deles foi até chamado pelo nome pelo comissário, não opuseram
nenhuma dificuldade em obedecer às ordens. Subiram aos carros onde já se
encontravam alguns falsos policiais; quando deixaram para trás os arredores do
cidade, foram cloroformizados e abandonados em um bosque.”
Os campos de resistência
Um coronel britânico que compartilhou da vida dos maquis relata alguns
acontecimentos que presenciou: “Depois da aldeia foi necessário caminhar ainda
duas horas ou mais. As folhas tardaram a cair nesse ano, de modo que os bosques
conservavam uma palpitante profundidade. De noite, era mais difícil avançar.
Bruscamente, descobrimos o campo. Em redor, homens estranhamente vestidos. Uma
cozinha coberta de zinco, perto da qual estava pendurada uma vaca esquartejada.
Uma tina fervia sobre três pedras. Esse campo era alguma coisa intermediária
entre um acampamento militar e um acampamento de boêmios, porém um ar puro e um
pouco embriagador emanava dele.
“Ali se contava, ali se dizia tudo o que era proibido dizer e cantar em outros
lugares. Não existia outra regra além da própria honra; era um momento em que
se agradecia ter uma tradição.
“Com renovado orgulho, os homens se reuniram e reconheceram que aquilo que
acontecia no país, mais que uma opressão, era uma humilhação; ser ultrajados
durante anos pelos desfiles debaixo de suas janelas, pelo perpétuo insulto
constituído pela ‘sua’ força e ‘sua’ alegria. Ali estavam num rincão de terra
francesa; era alguma coisa ter uma arma na mão. A bandeira tremulava no mastro.
Eram terroristas, como dizia Vichy, terroristas à sombra do pavilhão tricolor.
“Quando eram interrogados sobre por que estavam ali, a resposta chegava, às
vezes, lentamente, porém era sempre a mesma. Na verdade, sua decisão não era
motivo de preocupação; a única coisa que os preocupava era não partir; ir à
Alemanha era uma vergonha que, por razões de caráter, não podiam suportar, como
uma humilhação para sua honra; recusavam por instinto.
“A respeito desse heroísmo, podemos meditar sobre a página admirável em que
Junger, à frente de um grupo de prisioneiros franceses custodiados por uma
sentinela, toma a resolução de jamais se render, porque toda rendição abala o
ser humano no que tem de mais profundo.
Membros da guerrilha Maqui
“Com esse ‘não’ nos transportamos além da política do momento; à única
possibilidade deixada à energia francesa para se livrar do pesadelo das
derrotas, à única forma de preservar, psicologicamente e fisiologicamente
falando, a faculdade de dispor dos atos libertadores do porvir. Esse ‘não’
palpitava em cada um deles, e sei, agora, estava latente em todos os
companheiros; a negativa de se deixar vencer para sempre pela rendição,
constituía, no mais alto grau, um ato de pedagogia prática. O ato era valioso
por si mesmo. Contudo, aqueles campos ainda lhe emprestavam um outro
significado: ali, os negativos conduziam a um só fim, a pátria, que lhes
conferia dimensão nacional. Aparentemente, esse espírito estava disseminado em
todos os campos: naqueles, compostos por insubmissos aos S.T.O., jovens entre
20 e 22 anos; em outros, com insurretos de mais idade, voluntários de todos os
tipos. Aqui, um vendeiro, ali um mocinho de 17 anos, orgulhoso pela grande Cruz
de Lorena que luzia em seu uniforme. É preciso, contudo, não nos iludirmos; os
campos foram, na ocasião, o receptáculo de uma juventude que fugia da
deportação. Viam-se, então, em alguns pontos, campos repletos, porém
desordenados e precários; depois, os que foram para a montanha, só para se
esconder, desistiram para não ter que suportar o inverno. A massa dos
revoltosos não estava nos campos, mas nos maquis. Nos campos já não era
possível encontrar revoltosos, mas sim voluntários; a distância que separa as
duas palavras significa uma evolução de seis meses.
“Privados de todas as comodidades do mundo, viviam em barracas, cegos pela
fumaça, com um pouco de feno para dormir e algumas vezes nada. Comiam os
alimentos tal como lhes chegavam… Vestiam uma roupa precária, jaqueta e calças
rasgadas, às vezes, sem sapatos. Se se pensar nas dificuldades que uma família
encontra para alimentar-se, preservar-se do frio, ter um teto, compreenderemos
as necessidades a serem vencidas quando se trata de centenas e centenas de
homens que vivem em completa ilegalidade, pois não têm direito a nada, nem
sequer a um pedaço de pão. Na verdade, jamais soldados franceses conheceram
miséria igual. E se, por uma razão que não conhecemos, os campos não
desempenharam nenhum papel importante no aniquilamento da Alemanha, terão pelo
menos escrito uma página épica na história.
“Homens jovens (o chefe raramente tinha mais de 25 anos), crianças, às vezes,
eram, no entanto, homens grandiosos. Não posso deixar de lembrar aqui uma série
de retratos que um dia serão descritos: aquele paisano taciturno, de boina
enterrado até às orelhas, aquele oficial jovial e resmungão, aquele
aventureiro, capitão na China, tenente na Espanha, pois estava onde quer que se
estivesse lutando por uma causa justa, aquele rapaz de Saint-Cyr, de rosto
grave e impassível… Uma mesma vontade os unia, fruto de um mesmo sofrimento…
Exército aparentemente heterogêneo, porém mais que qualquer outra disciplina,
perseguições e sofrimentos comuns uniam seus elementos…”
As armas da Resistência
Vejamos como Bor Komorowski descreve o envio de armas e abastecimentos do
exterior, destinados aos grupos combatentes da Resistência polonesa: “A
princípio, o único recurso com que contávamos para nos abastecermos de armas
eram os depósitos que alguns particulares haviam enterrado depois da campanha
de setembro de 1939. Algumas dessas armas, apesar das precauções tomadas,
estavam estragadas, corroídas pela umidade. E o pior, é que o tipo de armas nem
sempre se adaptava às necessidades e métodos da nossa arte de guerra”.
“A Polônia, que se estendia na extremidade da área de vôo da aviação inglesa,
era um dos países aliados que se encontrava mais afastado da Inglaterra.
Tínhamos sérias dúvidas acerca das possibilidades de receber armamentos pelo
ar.
“A primeira tentativa para o lançamento de um pára-quedista com uma carga de
armas, explosivos e dinheiro foi projetado para o dia 20 de dezembro de 1940. O
pessoal já estava pronto em seus postos dentro do avião, quando se chegou à
conclusão de que os tanques não poderiam carregar a quantidade necessária de
combustível para voar até à Polônia e regressar. A segunda tentativa de vôo até
à Polônia foi fixada para 15 de fevereiro de 1941. Os pára-quedistas e os
abastecimentos deviam ser lançados no distrito de Cracóvia, quando eu era
comandante nessa cidade. Um destacamento especial foi designado para receber os
ingleses no lugar e na hora indicados.
“Na tarde de 15 de fevereiro recebi o aviso de que o vôo teria lugar naquela
noite e de que Londres já dera o primeiro sinal. Nada aconteceu. Dias mais
tarde, os alemães espalharam proclamações nas ruas, em todas as cidades do
país, oferecendo uma boa recompensa a quem os ajudasse a localizar três
perigosos criminosos.
Armas utilizadas pelos poloneses no Levante de Varsóvia.
“Alguns dias depois, os perigosos criminosos procuraram nossa organização em
Varsóvia. Os pára-quedistas haviam saltado, porém não sobre território polonês.
Haviam caído nos domínios do Reich. Contudo, o lugar em que caíram estava
somente a uns 100 quilômetros da fronteira polonesa e por sorte encontraram
poloneses que lhes prestaram ajuda de emergência. Conseguiram cruzar a
fronteira. A remessa de armas, desgraçadamente, fôra perdida.
“A fim de apreciar claramente as enormes dificuldades que tinham que passar
todos os que se lançavam a essa aventura, lembraremos que nos encontrávamos
separados da Inglaterra pela grande barreira que formavam o Reich e o Mar do Norte.
E, além disso, a ameaça da artilharia antiaérea e dos caças alemães. Também, os
bombardeiros que nos traziam homens e armas teriam outro obstáculo a vencer: o
tempo. Os aviões podiam decolar da Inglaterra somente quando o tempo fosse
favorável ali, sobre o Mar do Norte e através da rota de 1.600 quilômetros para
chegar à Polônia.
“Outro ponto que requeria cuidadosa atenção era o de estabelecer uma forma de
comunicação entre os homens que se lançavam de pára-quedas e os que estavam em
terra, esperando-os. Era essencial colocar sinais fáceis de serem distinguidos,
antes que se realizasse cada uma destas operações. Nas circunstâncias que
atravessávamos, o remoção de armas de um lugar para outro apresentava
consideráveis dificuldades. O ponto de recepção teve, portanto, que ser
selecionado com muito cuidado, tomando em consideração tanto nossas
necessidades imediatas como as do combate futuro. De tempos em tempos,
enviávamos a Londres por meio de um dos nossos correios, um mapa preciso em que
eram indicados os lugares exatos que havíamos selecionado para receber os
pára-quedistas ingleses, os sinais que se usariam, o tipo de documentos de
identificação que os pára-quedistas deveriam portar e as instruções detalhadas
para levar a cabo a operação. Na Inglaterra, um centro especial de treinamento
havia sido estabelecido com o propósito de instruir pára-quedistas.
“No dia em que um avião saía da Inglaterra rumo à Polônia, a BBC de Londres
encerrava a sua emissão em polonês com uma melodia previamente escolhida. Isto
servia como aviso para que um certo grupo de recepção esperasse a chegada dos
abastecimentos que seriam lançados por um avião inglês num lugar determinado,
naquela mesma noite. De acordo com o plano, a unidade de recepção se reunia no
lugar previsto. Todos iam bem armados; quando o avião se aproximava, faziam
sinais com luzes, indicando a direção do vento. Ao mesmo tempo, com luzes,
indicavam uma determinada letra já combinada, à guisa de contra-senha. Do
avião, com os faróis, respondiam-se aos sinais combinados. Eram então atirados
os fardos com a ajuda enviada, de muito pouca altura, e com muita precisão.”
Armia Krajowa (Exército de Resistência Polonês)
Relatos de Combatentes (Anexo)
“Wawer”
“Não havia nada que os alemães desejassem tanto, como explorar ao máximo o seu
poder sobre o fraco; e não havia nada que os pusesse tão furiosos como uma
brincadeira pública às suas custas. Retrucar ao seu sistema de terror com uma
brincadeira era bastante para enfurecê-los. Ridicularizá-los era nossa mais
importante missão na guerra psicológica. Tínhamos até uma dependência especial
no exército para se encarregar desse assunto. Esse setor era constituído em sua
maior parte por escoteiros (boy scouts) e tinha o nome chave de “Wawer”. Uma
das brincadeiras mais engraçadas da “Wawer” ocorreu no inverno de 1942. No
coração de Varsóvia, se erguia a estátua de Copérnico, do escultor dinamarquês
Thorwaldsen. Na base do monumento havia uma placa com a inscrição: ‘A Copérnico,
de seus compatriotas’. Os alemães a arrancaram e em seu lugar puseram outra que
dizia: ‘Ao Grande Astrônomo Alemão’. Bem perto da estátua havia uma delegacia
de polícia. Um dia, um grupo de trabalhadores, de macacões, e com suas
ferramentas, se aproximaram da estátua. Com grande calma e despreocupação,
arrancaram a placa que os alemães haviam colocado e a levaram.
“Três semanas passaram antes que as autoridades alemãs notassem que a placa
fôra retirada. Então apareceu um aviso assinado pelo governador alemão. Era
redigido no costumeiro estilo pomposo e dizia:
‘Recentemente, elementos criminosos arrancaram a placa que havia sido fixada ao
pé da estátua de Copérnico, por razões políticas. Em represália, ordenei
retirar o monumento de Kilinski. Ao mesmo tempo, faço advertência clara de que,
se atos como o presente voltarem a repetir-se, ordenarei a suspensão de todas
as rações para a população polonesa de Varsóvia durante uma semana.
(Assinado) Fischer, Governador de Varsóvia’.
“Kilinski fôra um sapateiro, que deixou seu humilde trabalho para converter-se
em líder popular durante o sítio da cidade pelos invasores russos no ano de
1794, e sempre havia sido um líder popular entre os operários de Varsóvia.
Alguns dias mais tarde, sua estátua foi arrancada do pedestal e posta,
temporariamente, nos subterrâneos do Museu Nacional. No dia seguinte, os que
passaram diante do Museu, viram uma inscrição, pintada a pixe sobre os alvos
muros, dizendo:
‘Povo de Varsóvia, aqui estou. (Assinado) Jan Kilinski’.
Uma semana mais tarde, os murais de avisos ostentavam um novo proclama,
idêntico em formato ao de Fischer. E o texto era:
‘Recentemente, elementos criminosos retiraram o monumento de Kilinski por
razões políticas. Em represália, ordenei o prolongamento do inverno na frente
oriental por mais dois meses.
(Assinado) Nicolau Copérnico’.
“Por estranho que pareça, o inverno aquele ano durou muito mais do normal e foi
causa dos alemães não poderem realizar seus planos para uma ofensiva de
primavera na frente oriental.
Bor Komorowski” (História de um Exército Secreto)
Dante Di Nanni
Na noite de 16 de maio de 1944, Dante Di Nanni havia participado, com alguns
companheiros, no assalto a uma estação de rádio da localidade de Barca, na
periferia de Turim. Os nove carabineiros que guardavam o local foram desarmados
e o edifício dinamitado. Quando se retiravam, foram surpreendidos por uma
patrulha alemã, e Dante Di Nanni foi gravemente ferido numa perna. Seus
companheiros o transportaram para um quarto no segundo andar do edifício n° 14
da Rua San Bernardino. Como Di Nanni piorava minuto a minuto, chamaram um
médico, que lhe extraiu da perna um enorme estilhaço de granada. Poucos minutos
depois da visita do médico, uma patrulha de soldados fascistas atacou a casa.
Dante pertencia ao GAP (Grupo de Ação Partidária), pequeno conjunto de
Resistência que operava na cidade de Turim, e tinha 18 anos. Aos soldados
fascistas se juntaram alguns alemães, de maneira que os atacantes formaram um
grupo de uns cem homens.
Di Nanni estava só quando o ataque se produziu, armado com uma metralhadora e
algumas bombas de mão. Correndo continuamente entre a porta que dava para a
escada e o balcão do primeiro andar, disparava rajadas de munição ou lançava
suas bombas.
Alemães e fascistas não se atreviam a lançar-se em massa para tomar o edifício,
pensando que estava ocupado por dezenas de partisans.
Alguns vizinhos pensaram que se tratava de um louco e chamaram os bombeiros. Ao
vê-los chegar, Nanni gritou para eles: “Vão-se embora! Não sou louco, sou um
partisan e não é contra vocês que combato. Vão-se embora!” O combate durou
cerca de quatro horas, isto é, até que o partisan esgotou suas bombas e
munições. Então, ante a surpresa dos atacantes que suspenderam o fogo, apareceu
uma figura pálida e coberta de sangue no balcão do segundo andar: era Di Nanni
que, com um grito de “Viva a Itália!”, se lançou ao vazio.
As forças atacantes haviam deixado, no transcorrer da luta, trinta mortos.
Carlo Di Stefani, um alfaiate da Rua San Bernardino, recorda o acontecimento,
23 anos mais tarde: “Há 29 anos que trabalho aqui, na Rua San Bernardino. Agora
resido no n° 22. A casa onde ocorreu o fato era a 14. Recordo que naquela manhã
estive trabalhando e, perto das nove horas, ouvi o primeiro estampido, provocado,
seguramente, por uma bomba de mão. Pensando que alguma coisa estava acontecendo
lembrei logo que meus filhos estavam brincando na porta. Ao sair, vi militares
armados, que entravam no número 14. Um deles estava ferido e sangrava.
“Peguei meus filhos, entrei em minha casa e tranquei a porta. Quando os
soldados subiam a escada, voltei a ouvir outra explosão. Enquanto isso, ia
juntando gente. Na casa entraram uns trinta soldados, entre fascistas e
alemães, e na frente do número 14 estava parado um carro de assalto com
metralhadora. Os disparos eram ouvidos alternados com as explosões das bombas
de mão. Várias vezes, os soldados procuraram chegar ao segundo andar, porém
sempre eram rechaçados pelo fogo dos sitiados.
“Eu quis voltar a trabalhar, porém as explosões e o vaivém dos soldados me
impediam. Não compreendia como uma batalha podia durar tanto; como cem homens
não podiam com alguns defensores que não deviam ser muitos; não entendia a
coragem dos sitiados que se defendiam como leões. Seguidamente, eram ouvidas
ordens de ataque e de retirada em alemão e italiano. E passou do meio-dia;
passou uma hora; passaram as duas…
“De súbito não ouvimos mais disparos. Assomei à janela e vi que diante do
portão do número 14 jazia um corpo ensangüentado. Era o corpo de um rapaz,
frágil e pálido, coberto inteiramente de sangue. Parecia impossível que toda
aquela batalha tivesse sido suportada unicamente por ele. O rapaz estava nos
últimos espasmos da agonia. Os milicianos fascistas lhe davam ponta-pés, quando
um oficial alemão, afastando violentamente os italianos, exclamou: ‘Se todos os
partisans forem como este, da outra vez necessitaremos de uma divisão’. E
sacando sua pistola disparou no agonizante o tiro de misericórdia. Depois se
perfilou, fez continência militar ao cadáver e ordenou aos seus homens que
apresentassem armas.”
“Partisans” alemães?
Embora não fosse muito freqüente, houve alguns casos de soldados e oficiais
alemães pedirem para ser admitidos nas fileiras dos partisans.
Rudolf Jacobs, Capitão de Marinha alemã, havia sido agricultor durante a vida
civil, na zona de Hamburgo. Desde muito jovem tornou-se notório o seu
antinazismo. Em 1944, tinha 39 anos. Após discutir o problema com sua esposa
solicitou sua transferência para a Itália, com a idéia secreta de unir-se aos
partisans. Ao apresentar-se aos chefes da Resistência declarou: “Não posso ser
por mais tempo cúmplice dos delitos do nazismo, e estou disposto a morrer
voluntariamente para abreviar mesmo que seja por um dia, esta horrível guerra…”
Integrando a brigada “Ugo Muccini” realizou diversas e felizes missões, até
que, a 3 de novembro de 1944, morreu durante o assalto a um quartel da “Brigada
Negra”. O Conselho Comunal de Sarzana lhe concedeu a cidadania honorária, e
colocou uma placa comemorativa na praça São Jorge, na cidade.
Outro caso foi o de Hans, um subtenente das SS, de vinte anos. Certo dia,
quando trocava o pneumático de um veículo, foi feito prisioneiro pelos
partisans, perto do povoado de Salere, na estrada Nice-Asti.
Junto com Hans, os captores aprisionaram dez homens mais. Giuseppe Berta
“Moretto”, chefe dos partisans, decidiu oferecer aos alemães uma troca de
prisioneiros, que eles aceitaram. No momento de efetuar-se a troca, Hans disse
que preferia ficar com os partisans. E foi assim que ingressou no grupo do seu
captor “Moretto” junto ao qual realizou notáveis atos de sabotagem.
“Maquis”
O caminhão, um velho Citroën, se deteve um pouco além da bomba de gasolina.
Chovera, e o caminho estava enlameado, porém, contrastando, as árvores
apresentavam um verde puro, fresco e limpo.
O veículo não se deteve muito tempo, ou melhor, quase se podia dizer que o
veículo nem chegou a parar de todo. Diminuiu a marcha ao mínimo, e dois homens
desceram. Quando partiu, os homens saíram do caminho e se internaram no bosque.
Quase não falavam. Tinham os sapatos e as calças ensopados pela folhagem
molhada. Não entraram na aldeia e tiveram que fazer uma larga volta para
evitá-la. Depois da aldeia foi necessário caminhar umas duas horas ou mais.
Embora o outono estivesse bem avançado, as folhas estavam caindo tarde aquele
ano e a espessura era cerrada; os homens caminhavam sem ser vistos. E era
evidente que conheciam bem o terreno que pisavam. Pouco a pouco começou a
escurecer, e a marcha, à medida que a noite caía, se tornava mais difícil. Um
dos homens acendeu uma lanterna, somente por alguns instantes. De noite, uma
luz, por pequena que seja, é um luxo muito perigoso para os que combatiam
Vichy. Subitamente, apareceu o campo. Estava tão bem dissimulado que uma
casualidade podia descobri-lo a qualquer momento.
Assim, de noite, era um lugar bastante estranho. No centro, um caldeirão enorme
fervia sobre três pedras. Pelos reflexos, entrevia-se uma precária construção
coberta de zinco, do qual balançavam partes de uma vaca, recentemente abatida.
Havia um homem seminu, lavando o rosto, e mais além, outro, limpando um fuzil.
À medida que os olhos se foram acostumando, puderam distinguir mais coisas, por
exemplo, algumas tendas.
- Verdum – murmurou um dos homens…
- Sim, adiante – respondeu o que lavava o rosto. – Não há sentinelas?…
- Hoje, não! – respondeu, brincalhão, o outro – sabíamos que vocês viriam e
então suspendemos a guarda. Assim recebemos os amigos!
Os dois homens riram. O campo era alguma coisa intermediária entre um
acampamento militar e um de boêmios errantes. Os maquis eram assim mesmo, não
tinham um termo exato para defini-los, possuíam um estilo muito pessoal, que os
unia, superando desinteligências políticas, religiosas ou raciais. Sidi, era um
anarquista argelino; Roy, um católico de esquerda; Pierre, um marxista; Claude,
simplesmente um aventureiro, que, segundo suas palavras, “apenas queria se
divertir um pouco”; Jacques, um monarquista.
Os homens “adotavam o maquis” por várias razões: por patriotismo, por não
querer ir trabalhar na Alemanha, por problemas que não tinham muito que ver com
a ocupação, mas sim com a liberdade. Michel, por exemplo, havia lutado com um
miliciano tão bêbado como ele e o havia morto, afinal. O acampamento era uma
das muitas lacunas da França ocupada. Ali se viviam os grandes momentos.
Celebravam-se vitórias, choravam-se os mortos, planejavam-se “golpes de mão”,
cantava-se ou costurava-se a roupa.
Em geral, os guerrilheiros da Cruz de Lorena tinham necessariamente que viver o
momento presente. Do contrário a existência se tornaria impossível. Assim, eram
tensos, violentos e cruéis no combate, amáveis, alegres ou melancólicos nos
poucos momentos de descanso. A angústia do combate terminava com o combate;
esta era uma premissa tacitamente aceita. Também, as possibilidades da
Resistência eram assaltos rápidos, que aumentavam vertiginosamente à medida que
as tropas aliadas desalojavam os alemães.
Quanto tempo viveriam assim? Ninguém sabia e nem perguntava. Apesar do perigo,
viviam um momento idílico. Talvez, depois da guerra, quando se restabelecesse a
normalidade, cada um poderia voltar às suas idéias e até lutar entre si. Michel
desejava viajar, se não morresse antes. Sidi queria voltar à Argélia, para “lutar
contra os franceses” porque, como costumava dizer, “tenho a tez escura, os
franceses não me consideram francês e os argelinos não me consideram argelino”.
Então, Sidi, meio árabe e meio gaulês, voltaria a sentir frio, fome e angústia,
para lutar contra uma nação que nesse momento defendia, pela liberdade de uma
outra.
Algumas vozes, no acampamento, começaram a cantar. Entoavam velhas melodias,
nascidas nos bulevares de Paris no princípio do século, e que haviam conhecido
a glória e a amargura da França.
Os dois homens que haviam saltado do caminhão, um pouco depois da bomba de
gasolina, umas quatro horas antes, perguntaram:
- Não é arriscado cantar a esta hora?
- Bom – respondeu Roy – na verdade, estamos todos os dias nos arriscando a
morrer, não é mesmo? Então não tem importância que de vez em quando a gente se
arrisque a viver um pouco…
Decálogo dos “Maquis”
1o) Todo homem que solicita admissão nos maquis da Resistência Unida, não é
somente um refratário à mobilização alemã, mas também um franco atirador
voluntário e um auxiliar do exército secreto das Forças Francesas Combatentes,
comandadas pelo General De Gaulle e pelo “Comité National Français”.
2o) Aceita submeter-se à severíssima disciplina do maquis e obedecer sem
discussão a todas as ordens que receber do chefe.
3o) Renuncia, até o fim da guerra, a comunicar-se com sua família ou seus
amigos. Guardará segredo absoluto sobre a distribuição dos refúgios, a
identidade dos seus chefes e companheiros. Sabe que qualquer infração desta
proibição será punida com pena de morte.
4o) Declara compreender que nenhuma ajuda especial pode ser proporcionada à sua
família, sem submetê-la aos ciúmes e denúncias dos vizinhos.
5o) Sabe que não pode ser feita nenhuma promessa de salário regular, que sua subsistência
e até seus armamentos são inseguros. Declara compreender que a menor coisa que
obtenha, não foi conseguida senão por um esforço constante, ao preço de enormes
dificuldades e de perigos extremos para todos os quadros superiores e órgãos de
ligação. Respeitará a propriedade privada e a vida dos cidadãos franceses,
aliados ou neutros, não só porque a existência dos maquis depende da sua boa
harmonia com a população, mas também porque os homens do maquis são o que há de
melhor no país e devem dar a todos o exemplo e a prova de que a coragem e a
honestidade marcham juntas no espírito dos verdadeiros franceses.
6o) A alimentação e o vestuário dos maquis podem nos obrigar a ordenar
operações de pilhagem nos armazéns das forças de polícia de Vichy, ou até de
seus depósitos, das reservas de víveres ou de vestuário do “Secours National”
ou dos prisioneiros. Esses assaltos, que serão limitados ao indispensável, para
que seja assegurada a todo preço a subsistência dos refratários, serão
executados por homens de classe, escolhidos com cuidado muito particular com
relação ao seu alto valor moral. Assim que o armamento permitir, essas
operações se realizarão exclusivamente sobre as reservas do exército de
ocupação.
7o) Naturalmente, não se realizará nenhuma distinção de credo religioso ou de
opinião política, no que concerne à adesão dos candidatos. Católicos,
protestantes, muçulmanos, judeus ou ateus, monarquistas, radicais, socialistas
ou comunistas, todos os franceses que desejarem lutar contra o “inimigo comum”
são bem-vindos entre nós.
Não somente o homem dos maquis respeitará as crenças e as opiniões dos seus
companheiros, mas também deve ser para eles um amigo abnegado, um irmão de
armas; a salvação de todos depende deles, e somente uma boa camaradagem tornará
a vida suportável nos refúgios da Resistência. Todos deverão esquecer seus
costumes, seu egoísmo e até seus gostos; sacrificar-se por um companheiro,
tomar seu lugar na labuta quando estiver cansado, em perigo, em todos os casos,
são as menores virtudes que se podem exigir de homens colocados na nossa
situação.
Um ferido jamais deverá ser abandonado. Os cadáveres deverão ser transportados
e enterrados, cada vez que isso for humanamente possível.
8o) O voluntário do maquis não será armado senão quando sua resistência, seu
treinamento, e sua disciplina o tornarem digno de receber uma de nossas armas,
muito poucas, e em conseqüência, muito preciosas. Deverá cuidar dela
carinhosamente, conservá-la escrupulosamente limpa, levá-la sempre consigo,
salvo se tiver que confiá-la ao armeiro do campo.
Toda perda de arma será punida com a morte. Esta sanção é severa, porém
indispensável para a salvação de todos.
9o) O voluntário conservará seus pertences e seu corpo tão limpos como
possível; a saúde física e moral depende disso; é indispensável para a salvação
da nação.
10o) Todo homem dos maquis é um inimigo do Marechal Pétain e dos traidores que
obedecem a ele.
Resistência Francesa
Philippe de Crevoisier de Vomécourt, escritor francês educado na Inglaterra,
participou na Resistência desde seus primeiros momentos. De seu livro Who lived
to See the Day, editado em Londres pela Editorial Hutchinson, reproduzimos um
fragmento referente às primeiras, e em muitos casos ingênuas, formas de
“resistência” na cidade de Paris.
“A fama da resistência francesa não deve morrer e não morrerá” – as palavras de
De Gaulle criava nos ingleses a idéia de que uma resistência organizada em solo
francês com atos de sabotagem, não serviria para outra coisa senão provocar
represálias. Os franceses livres não podiam se limitar a isso, necessitavam
demonstrar aos alemães que a guerra com eles não havia terminado.
“As primeiras tentativas foram naturalmente diletantes e ingênuas. Por exemplo,
aquela velha senhora de 78 anos, que trabalhava no metrô de Paris. Ficava
sentada num banquinho ao lado da porta do vagão e cada vez que um oficial
alemão subia, fazia-o tropeçar em sua bengala. Eram trinta ou quarenta vezes
por dia que os conquistadores caíam de pernas para o ar.
“Nos banhos públicos apareceram uns cartõezinhos escritos à mão, que informavam
aos cidadãos sobre a melhor maneira de inutilizar os veículos alemães,
colocando açúcar nos tanques de gasolina.” Houve um menino que costumava
introduzir-se nos vestíbulos dos cafés freqüentados pelos oficiais da Luftwaffe
e, longe das vistas de todos, tirava os espadins que estavam pendurados junto
aos capotes, nos cabides, e lhes quebrava as lâminas.
“O marquês de Mousrier, um velho patrício do leste, que possuía minas na França
e na Bélgica, fez voar pelos ares um dos seus poços. O gesto lhe custou quatro
milhões de francos, uma boa soma de dinheiro para a época, porém, em
compensação os alemães não puderam retirar mineral do poço. Outras atividades
saíram bastante caras, como a bravata de cinco mocinhos de Nantes, que cortaram
os fios telegráficos e telefônicos do norte da cidade, para aborrecer os
alemães. Eles não consideraram a inutilidade do seu ato; porque os invasores
continuavam comunicando-se pelas linhas do sul ou pelas da cidade vizinha; além
disso, o inconveniente foi facilmente reparado. Porém, os cinco mocinhos foram
presos e passados pelas armas.
“Um dos fatores que mais ativamente contribuíram para organizar centros de
resistência foi a reação popular à tentativa dos alemães de criar grupos e
movimentos políticos favoráveis a eles. Uma propaganda maciça através do rádio,
dos jornais, etc., foi lançada para desorientar o espírito da massa e
inculcar-lhe a teoria e o programa do regime nazista. A oposição não tardou a
aparecer de forma concreta, numa série de movimentos clandestinos, com nomes
combativos, como: “Liberdade”, “Libertação”, “O Franco-atirador”, “O galo
acorrentado” (o galo é o símbolo representativo do povo francês) e “Combate”.
Eram na realidade, reuniões de franceses que elaboravam e discutiam a melhor
maneira de salvar o país de uma total submissão. Em seu estado embrionário,
esses grupos almejavam por uma resistência, porém não ainda em forma de
atividade militar organizada”.
“Lulu”
Louis Chabat, mais conhecido como “Lulu”, era francês e combatera com os maquis
na zona de Grenoble. Ao ser preso, a 8 de setembro de 1943, foi remetido à
prisão de Fossano, no Piamonte. Algum tempo mais tarde, em companhia de outros,
fugiu para unir-se ao grupo de Resistência italiano que operava na região de
Mondovi e Alba. Comandando dez homens, assaltou arsenais, descarrilhou trens e,
para coroar sua trajetória, voltou ao cárcere de Fossano, onde, com um golpe de
audácia, libertou a todos. “Lulu” costumava vestir-se com uniformes de oficiais
fascistas ou alemães, para facilitar seus atos de sabotagem. No dia 9 de
fevereiro de 1945, foi morto por outro grupo de partisans, que o confundiu com
um inimigo emboscado.
Combater com papai
“Chamo-me Fiumberto Borelli. Em setembro de 1943, não havia completado ainda
doze anos e mal terminara de cursar o quinto ano. Nasci, e minha família viveu
sempre na praça Cappella de Cangiani, que fica ao norte da cidade, sobre a
colina de Camaldoni.
“No dia 23 de setembro, enquanto uma longa fila de caminhões alemães se
afastava da cidade, vi minha mãe chorando e Vicente, meu pai, armado com uma
metralhadora de mão. Quando se aproximou para despedir-se de mim, saltei no
colo dele e perguntei: – Papai, posso ir com você? Meu pai, que era chefe do bando
de partisans que operava na zona de Camaldoni, sorriu, me acariciou, pensou um
pouco, e me dando uma palmada carinhosa, disse: – Bem, vem comigo.
“Meu pai e os seus homens acampavam em um pequeno desfiladeiro que dominava a
entrada de Orsolone. Era o esconderijo ideal. Eu ficava de vigia e avisava
apressadamente quando notava movimentos de soldados. No dia 27, na rua do
hospital sanitário ‘Príncipe do Piamonte’, vi alguns alemães prendendo dois
meninos, filhos de partisans.
“Corri velozmente, e emiti um assobio agudo pondo dois dedos dentro da boca.
Era o sinal; meu pai e os companheiros dispararam suas metralhadoras e os
alemães fugiram.
“Outra vez, ainda dentro da minha nova profissão de vigia, vi soldados alemães
saltando de um caminhão e começando a colocar cargas de explosivos para
dinamitar a ponte Caracciolo. Não dava tempo de avisar meu pai; me sentia muito
emocionado, mas levantei o meu revólver e disparei contra o caminhão.
“Os alemães responderam ao fogo e nesse momento meu pai e os companheiros
chegaram, e, em poucos minutos, expulsaram os alemães, capturaram o caminhão e
inutilizaram os explosivos.”
“Pássaro Carpinteiro”
Violentos golpes sacodem a porta de entrada de uma casa situada num distrito
vizinho às margens do Vístula. Cinco homens, reunidos em torno de “Dzieciol”
(Pássaro Carpinteiro), chefe do Serviço de Inteligência, se entreolham
silenciosamente. Sabem que a Gestapo anda na pista do chefe. E sabem também que
muitos companheiros de “Dzieciol” foram presos e torturados até conseguir
arrancar a identidade de quem os dirigia.
Enquanto os homens, extremamente tensos e pálidos, escutam as pancadas
aumentarem, “Dzieciol” corre para o quarto ao lado. A porta da rua se abre, e a
dona da casa troca umas frases com alguém. Depois, sorridente, aparece no
quarto onde estão reunidos os integrantes da Resistência.
“Não há nada a temer – diz, acalmando-os. – Trata-se do empregado da luz que
veio examinar o medidor; impacientou-se porque não abri logo”. Ao ouvir essas
palavras, “Dzieciol”, cambaleante, entra no quarto. “Me envenenei” – murmura
com voz entrecortada, e desaba. O chefe do Serviço de Inteligência, com os
nervos destroçados pela constante angústia em que vivia, não havia resistido a
esta última prova.
Após passar por grandes dificuldades, conseguiram salvar-lhe a vida. Seu
tratamento durou quase duas semanas. Ao sair do hospital onde se restabelecera,
foi preso pela Gestapo. E dessa vez, não carregava consigo nenhum veneno… Dias
depois, após terrível torturas, foi assassinado.
A bordo de uma barcaça no Tibre
Mauricio Giglio havia completado vinte anos quando a guerra foi declarada.
Membro fanático das organizações juvenis fascistas, logo partiu para a frente.
Estava pronto a morrer por suas idéias e foi enviado à Albânia, depois de haver
completado o curso de oficial. Combateu ardorosamente até ser gravemente ferido
e foi, então, repatriado. Durante sua convalescença, o jovem tenente começou a
refletir seriamente por que combatia, e sobre tudo o que aprendera na escola, e
sobre o que recordava haver vivido nos seus primeiros anos. A 8 de setembro de
1943, o dia do armistício, o Tenente Giglio estava decidido. Escreveu aos seus
pais: “Há algum tempo que me aproximo da verdade. É uma aproximação penosa do
verdadeiro caminho… “
Um dia saiu do hospital, atravessou a linha de frente e se apresentou ante um
comando do 5o Exército americano. Havia se decidido por um lado no combate.
Propôs um plano: voltaria a Roma, se alistaria na polícia fascista para não
despertar suspeitas e transmitiria informações para os Aliados e grupos de
partisans. Os americanos aceitaram e lhe entregaram dois pequenos transmissores
de rádio.
Voltou a atravessar as linhas de frente, evitando as patrulhas alemãs e se
uniu, em Roma, a outros três colaboradores. Alistou-se na polícia fascista, e
ao cabo de umas semanas começaram a chegar copiosas informações aos serviços
secretos aliados. Os transmissores eram montados em diferentes lugares da
cidade para que não fossem localizados pelos serviços de contra-espionagem
alemão. Um dia um foi colocado na casa do ator Sergio Tofano; outro, na cúpula
da Igreja de Santa Ana na praça Navona. A recepção e a transmissão continuou
assim pelo espaço de alguns meses.
A 16 de março de 1944, a polícia fascista prendeu um dos operadores que
confessou que o outro aparelho estava transmitindo a bordo de uma barcaça no
Tibre, perto do Ministério de Finanças, e junto à Ponte do Renascimento. O
Tenente Giglio, advertido, poderia ter-se posto a salvo e transferido o rádio
para outro colaborador em lugar seguro, porém não quis, e continuou
transmitindo até o último momento, para não interromper a emissão.
Era um prisioneiro precioso; foi torturado, para que contasse tudo o que sabia,
mas sem êxito. Teve que ser carregado por dois soldados quando foi colocado
diante do pelotão de fuzilamento.
Salto para a morte
Milão. 20 de maio de 1944. Rua Pier Capponi 2.
Gaston Piccinini, oficial da Marinha italiana, e Sergio Tavernari, estudante
milanês, ocupam um pequeno quarto num velho edifício. É um compartimento úmido
e escuro e está pobremente mobiliado. Mas um armário pequeno que ocupa um
ângulo do quarto tem um valor incalculável. Ali está escondido algo que para
eles pode significar a vida ou a morte. Ali está instalado um pequeno aparelho
transmissor que os mantém em contato permanente com os grupos guerrilheiros do
interior da Itália…
São quatro horas da manhã do dia 20 de maio.
A campainha da porta da entrada começou a tocar, estridente. Gaston Piccinini,
erguendo-se bruscamente do seu leito, perguntou em voz alta quem chamava. Uma
resposta, seca, terminante, o paralisou: “Polícia”. Piccinini, saltando da cama
procurou dar um tom calmo à voz: “Um momento. Me visto e abro”. Em seguida,
fazendo um sinal a Sergio Tavernari, que o observava, interrogativamente,
começou a destruir o aparelho com a coronha do seu revólver, enquanto Tavernari
punha fogo nos códigos e em outros documentos. Entrementes, os policiais, fora
do quarto, haviam começado a bater na porta com a culatra dos seus fuzis, procurando
derrubá-la. Piccinini e Tavernari, correndo para a janela, a abriram de par em
par. Embaixo, na rua, um grupo de soldados cercava a casa. Algumas balas
começaram a silvar em redor dos dois. Os jovens, então, audaciosamente, por
cima de uma cornija, chegaram ao balcão de uma casa vizinha. Forçaram a janela
e penetraram no interior de um recinto silencioso e escuro. A luz da lanterna
de Piccinini, explorando rapidamente o ambiente, mostrou que estavam num quarto
vazio. Correram para o terraço. Tudo estava silencioso e na penumbra. Do ponto
mais alto da casa, cinco andares sobre o nível da rua, olharam para baixo.
Grupos de soldados e policiais se movimentavam velozmente para as esquinas. O
quarteirão estava rodeado. Os dois rapazes se esconderam rapidamente entre
caixotes e madeiras amontoados num canto do terraço. Ainda restava uma
esperança… Porém passos precipitados, cada vez mais próximos, os convenceram da
inutilidade de pretender fugir.
Piccinini, friamente, segurou Tavernari pelo braço e o conduziu até ao
parapeito. Depois, encarapitando-se nele, fez ao outro um sinal apenas
perceptível. Tavernari, compreendendo-o, o imitou. Com os braços fortemente
agarrados, como para se estimular mutuamente a tentar aquela derradeira fuga
sem retorno, se lançaram ao vazio.
Sergio Tavernari e Gaston Piccinini foram recolhidos, instantes depois, ainda
com vida. Transportados a um hospital próximo, Tavernari não conseguiu
sobreviver aos ferimentos.
Piccinini, ao contrário, reagindo às inúmeras fraturas, passou vários dias
inconsciente. Por fim, num audacioso assalto, um grupo de guerrilheiros
dirigidos por Leon Beltramini penetrou no hospital e o resgatou, escondendo-o.
Meses depois, Gaston Piccinini voltava à luta. Atrás dele ficava um camarada
morto.
Hitler ludibriado na Dinamarca
20 de junho de 1941. A Alemanha invade a União Soviética, seu ex-aliado. Na
Dinamarca, uma nação ocupada pelos alemães, que graças à sua aparente
passividade havia conseguido importações suficientes para ter o nível de vida
mais elevado da Europa, começam a se formar grupos de resistência clandestinos.
Um deles, denominado “Frihedsraad” (Conselho de Liberdade) agrupa, entre
outros, notáveis intelectuais, como os professores Olle Chievitz e Mongens Fog.
Desde o princípio procuram prudentemente estabelecer contato com a União
Soviética por um lado e com os Estados Unidos e a Inglaterra, por outro.
A atividade fundamental do grupo é constituída por ataques a linhas férreas,
dinamitação de pontes, incêndio em trens, etc.
Os Aliados, a princípio não prestaram muita atenção na formação da Resistência
dinamarquesa; acreditavam mais na efetividade dos exércitos organizados, que na
ação de bandos clandestinos por mais boa vontade e estrutura que tivessem.
Porém, nas jornadas de preparação do famoso Dia D, os chefes ingleses e
americanos começaram a encarar com mais seriedade os golpes de audácia do
movimento. A invasão da “Fortaleza Européia” era algo que os alemães
pressentiam e os Aliados preparavam no maior segredo. Hitler temia o desembarque
aliado, porém ignorava onde seria efetuado.
Os serviços de inteligência ingleses e americanos tratavam por todos os meios
de despistar Berlim, criando impressões falsas. Queriam dar a entender que o
desembarque se produziria em qualquer uma das inúmeras bordas da “Fortaleza da
Europa”, menos nas praias da Normandia.
Os atos de sabotagem no norte da península dinamarquesa fizeram a Alemanha
desconfiar que o assalto se efetuaria na Dinamarca. Fortes contingentes de
tropas foram retiradas de outras frentes e enviadas aos arredores de
Copenhague.
Estes preparativos foram percebidos pelos Aliados que se deram conta dos
pressentimentos de Hitler. Então, o “Frihedsraad” passou para primeiro plano.
Dia e noite, os aviões da Real Força Aérea sobrevoavam as zonas lançando
agentes, armas e material de propaganda. As unidades rápidas da frota, os
submarinos, os homens-rãs e os “comandos”, complementavam essa atividade aérea,
garantindo o serviço de correspondência, os transportes, e efetuando
reconhecimentos e atos de sabotagem.
Os golpes de audácia se multiplicaram. Na província da Jutlândia se efetuaram
mais de oito mil atos de sabotagem, com o fito de distrair a atenção alemã.
Quando o desembarque finalmente foi efetuado, Hitler comprovou o seu equívoco;
as atividades dos grupos clandestinos não somente haviam erguido uma cortina de
fumaça sobre as reais intenções dos Aliados, como, ao mesmo tempo, haviam
afetado consideravelmente os meios de comunicação alemães na Dinamarca.
Heróis e mártires
Aqui, estão alguns, dentre muitos, membros da Resistência francesa, mortos no
curso de suas atividades clandestinas:
Felix Eboue, nascido em Caiena. Administrador de Colônias, primeiro homem de
cor nomeado governador. E 1940, sendo governador no Chad, decidiu unir seu território
à França Livre. Morreu em 1944.
Honoré D’Estienne D’Orves, Oficial da marinha. Transferiu-se para Londres,
unindo-se à frota da França Livre. Posteriormente desembarcou clandestinamente
na Bretanha. Traído por um de seus homens, foi preso pela Gestapo em 1941.
Condenado à morte e executado a 29 de agosto de 1941.
Bertie Albrecht, membro do movimento clandestino Combat. Preso, foi libertado
por seus camaradas. Novamente aprisionado pela Gestapo, foi torturado e morto
em junho de 1943.
Jean Moulin, preso pelos alemães por negar-se a assinar uma declaração que
considerava infamante. Fugido, chegou a Londres, unindo-se ao movimento da
França Livre. Em janeiro de 1942 regressa à França, organizando o movimento da
Resistência no sul do país. Preso em junho de 1943, foi torturado e morto em
julho do mesmo ano.
Jean Artus, Jacques Baudry, Pierre Benoit, Pierre Grelot, Lucien Legros, alunos
do Liceu Buffon. Organizaram manifestações antialemães e atacaram oficiais
inimigos. Presos em junho e agosto de 1942, foram condenados à morte e
fuzilados a 8 de fevereiro de 1943.
General-de-Divisão Delestraint, especialista em blindados. Nomeado pelo General
De Gaulle chefe do exército secreto dos Movimentos Unidos da Resistência. Preso
em Paris em junho de 1943, enviado ao campo de concentração de Dachau e morto
nesse campo em abril de 1945.
Jean Cavailles, filósofo, professor na Sorbonne. Preso, conseguiu fugir. Preso
novamente, foi condenado à morte e executado em agosto de 1943.
Pierre Brossolette, jornalista. Partiu para Londres, de onde regressou à
França, com a missão de coordenar a ação da zona norte. Preso e torturado,
suicidou-se, lançando-se por uma janela da Gestapo, em Paris, em março de 1944.
Pierre Georges Fabien, operário metalúrgico, autor do primeiro atentado contra
um oficial alemão, fundador dos Batalhões Armados da Juventude, comandou a
Brigada das Forças Francesas no interior da “Ile de France”. Suas unidades,
formadas por operários parisienses deram o melhor exemplo da unidade existente
entre o exército clandestino e o Primeiro Exército Francês. Tomou parte na
campanha da Alsácia, no transcorrer da qual tombou morto em Habsheim, no Alto
Rin, a 27 de dezembro de 1944.
Roger Peronneau. O texto a seguir pertence a uma carta, a última, escrita por
um condenado à morte. Foi redigida aos seus pais por um jovem combatente da
Resistência:
29 de julho de 1942
Queridos pais:
Vou ser fuzilado ao meio dia (agora são 9h15m). Sinto uma estranha mescla de
alegria e de emoção. Perdão por toda a dor que lhes causei, por todo o que lhes
causo, e por tudo o que ainda causarei. Perdão a todos pelo mal que lhes possa
ter feito e por todo o bem que não fiz. Meu testamento será curto. Peço apenas
que não percam a fé. Abraço-os de todo o coração. Do filho que os adora, Roger.
Roger Peronneau, fuzilado a 29 de julho de 1942.
Data de
acesso:30/04/2015